A FARSA
AMERICANA
Quando se enquadra a produção romanesca
de Nathanael West no período em que surgiu, consegue perceber-se algumas das
razões por que, numa fase já bem posterior à morte do escritor, a sua obra foi
expressivamente revalorizada.
Na década de trinta, a ficção americana
era dominada pela (agora demasiado esquecida) trilogia USA de John Dos Passos,
pela épica social de John Steinbeck (de Tortilla Flat, em 1935, ao famoso As
Vinhas da Ira, em 1939), pelo constante confronto com a morte de Hemingway
(Morte
à Tarde e As Neves do Kilimandjaro), pelo contínuo deambular sulista de
William Faulkner (do genial Santuário até As Palmeiras Selvagens),
enquanto F. Scott Fitzgerald finalizava a sua incursão literária maior, em
1934, com Terna é a Noite. Paralelamente, Thomas Wolf (quando será
conhecido em Portugal, como deve ser, este autor?) continuava a sua torrencial
narrativa (Of Time and the River, 1935, e The Web and the Rock,
1939) e Henry Miller, na mais europeia marginalidade, publicava os seus Trópicos.
Por fim, é a a época áurea do romance negro (Raymond Chandler, Dashiell Hammett
e James Cain) e dos “best-sellers” de Margarett Mitchell (E tudo o vento levou), de
Pearl Buck, de Louis Bromfield, de James Farrell e ainda de Erskine Caldwell (A
Estrada do Tabaco).
Neste quadro literário, muito
marcado pela Depressão, a obra de Nathanael West distingue-se, não tanto pela existência
de uma temática alternativa, mas por um tratamento original de uma problemática
comum a esta época.
O traço “expressionista” do estilo
(resultante de uma notória componente “plástica”, como é bem assinalado pela prefaciadora)
estabelece uma curiosa consonância com a prática literária e dramatúrgica de língua
alemã dos anos vinte. Semelhante traço revela que existia em Nathanael West uma
inquietação “modernista” que, em confronto com uma conjuntura social tensa,
provocou o aparecimento de formas ficcionistas alternantes aos modelos de
construção romanesca característicos da década americana de trinta.
Mas o aspecto mais interessante desta obra está no nexo que este traço expressionista estabelece com outros elementos estruturais, em particular os relativos à caracterização das personagens e à montagem da acção.
Por fim, quanto a esta edição, lembro as
acertadas objecções que lhe levantou Clara Ferreira Alves numa breve nota que
publicou no Expresso-revista recentemente. Mas, de qualquer modo, e sem se
desculpar o atestado de ignorância ao leitor dado por algumas notas de rodapé,
talvez seja útil salientar que a presente edição é resultante, em grande parte,
da inexistência de edição universitária no nosso país, “empurrando” a produção
teórica e prática da Academia, para se manifestar de forma impressa, a
apresentar-se em edições de grande público.
Publicado no Expresso em 1985.
Título: Miss Corações Solitários e O Dia dos Gafanhotos
Autor: Nathanael West
Tradução (prefácio e notas): Maria Teresa Alves
Editor: Publicações Dom Quixote
Ano: 1985
366 págs., 5,54 €
Tradução (prefácio e notas): Maria Teresa Alves
Editor: Publicações Dom Quixote
Ano: 1985
366 págs., 5,54 €
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